TRATAMENTO DA NEURITE ÓPTICA Qual o papel do corticóide oral? |
|
|
Por Frederico Moura 21 de março de 2018 |
|
|
Um dos principais dogmas na prática neuroftalmológica é o tratamento da neurite óptica. Classicamente, ele é feito com pulsoterapia de metil-prednisolona (250 mg - 4x/dia) seguido de corticóide oral (prednisona 1mg/kg/dia) com redução gradual. Essa "receita" vem do notório trabalho da década de 90 conhecido como ONTT (Optic Neuritis Treatment Trial- ref. 02). Neste, os pacientes que trataram com pulsoterapia recuperaram a visão mais rápido do que com corticóide oral e placebo. |
|
|
Desse mesmo artigo científico (ref. 02) vem outro dogma relacionado a neurite óptica: não se deve usar prednisona oral isolada. No artigo, os pacientes que usaram prednisona oral (1mg/kg/dia) isolada tiveram uma maior taxa de recorrência da neurite óptica durante o seguimento comparada aos que usaram corticóide intravenoso (IV) e placebo. |
|
|
Diante destes e de outros resultados do ONTT, a conduta terapêutica da neurite óptica nos anos 90 e início de 2000 mudou, em especial com a menor frequência da prednisona isolada e maior frequência da conduta expectante (ref. 03) |
|
|
Entretanto, nos últimos anos vem ganhando força o uso do corticóide oral isolado no tratamento da esclerose múltipla (EM). Um trabalho mostrou que não há diferença entre a taxa de recorrência da EM nos pacientes tratados com pulsoterapia x prednisona oral (ref. 07). Estes resultados não tentam mostrar que o corticóide é melhor, mas sim que "não é pior" do que pulsoterapia. Outros argumentos são menor custo e praticidade (não é necessário toda a "logística" associada a pulsoterapia). |
|
|
Para maior conhecimento, sugiro que você leia o artigo "Should Oral Corticosteroids Be Used to Treat Demyelinating Optic Neuritis?" (ref. 04) que é um ponto-contraponto de dois médicos: um a favor e outro contra o uso do corticóide oral. Por fim, eles concordam que corticóide oral em dose baixa e intermediária não deve ser indicado para o tratamento da neurite óptica desmielinizante. Já o corticoide oral em alta-dose pode ser usado como alternativa para metil-prednisolona (MP) intravenoso. (Dose baixa: <100mg MP ou equivalente; dose intermediaria: 100-500 mg MP ou equivalente; e dose-alta > 500 mg MP ou equivalente). O autor a favor do corticóide sugere 1250mg/dia, dividida em 2-3 dose, durante 3 dias. |
|
|
"As usual", é necessário mais trabalhos para definir melhor o papel do corticóide oral no tratamento da neurite óptica desmielinizante. |
|
|
Referências - Miller, Neil R.; Newman, Nancy J. Walsh & Hoyt's Clinical Neuro-Ophthalmology, 6th Ed.
- Beck RW et al. A randomized,controlled trial of corticosteroids in the treatment of acute opticneuritis. The Optic Neuritis Study Group. N Engl J Med.1992;326:581–588. Link PUBMED
- Trobe JD et al. The impact of the optic neuritis treatment trial on the practices of ophthalmologists and neurologists. Ophthalmology. 1999 Nov;106(11):2047-53. Link PUBMED
- Morrow MJ et al. Should Oral Corticosteroids Be Used to Treat Demyelinating Optic Neuritis? J Neuroophthalmol. 2017 Dec;37(4):444-450. Link PUBMED
- Optic Neuritis Study Group. Visual function 15 years after optic neuritis: a final follow-up report from the Optic Neuritis Treatment Trial. Ophthalmology. 2008 Jun;115(6):1079-1082.e5 Link PUBMED
- Optic Neuritis Study Group (1997) The 5-year risk of MS after optic neuritis. Experience of the optic neuritis treatment trial. Neurology 49: 1404–1413. Link PUBMED
- Sharrack B et al. The effect of oral and intravenous methylprednisolone treatment on subsequent relapse rate in multiple sclerosis. J Neurol Sci. 2000;173:73–77. Link Periodico
|
|
|
"Com o saber cresce a dúvida" Goethe |
|
|
|
|